DESTARTE
Eu cheguei quase agora do céu que era a tua presença, lembrei do seu carinho e resolvi copiar algumas palavrinhas de amor e prece. Pensei em duzentos beijos, um de cada lado do rosto e outro no narizinho de cada amiguinho.
E desejei tão forte, encontrar os meus queridos, que Deus me ouviu...
PORTO SOLIDÃO
Vi você cruzar o céu feito um astro rei na pressa de iluminar o mundo.
Vi as lágrimas de chuva, confundir-se com seu choro.
Vi a ponte colorida feito um ornamento natalino e a lua ausente como se nada pudesse lhe tocar.
Lembrei do porto triste com a tua ausência e do mar, alagando a orla com as lágrimas que a garoa encobria tentando disfarçar a tormenta dos nossos olhos.
Vi você insurgir na noite, feito uma lua cheia de amor para a esperança e o desespero de Tróia. E eu não estava lá, para testemunhar os seus caprichos...
MURALHAS
Talvez até tenham chorado, ainda mais, aqueles olhos por trás das lentes, depois disto, tudo é silêncio.
Até que as ondas se calassem e a maré deixasse os barcos adormecidos à beira praia debandarem em segurança junto aos seus passos de corpete e armadura cintilante.
Para que ainda muitos possam seguir a mesma trilha, independente da solidão que haja nos arredores em busca de esperança e paz.
Enquanto segredam as estrelas, os seus momentos com Deus.
E quem sabe assim guardar no coração algo de bom, feito esperança e amizade...
E que seja sincera,diante daquele sorriso ameno que a lua acanhada transmitia.
FAROL
Não havia somente barro e lama no porto, havia também um farol, feito pilar esplêndido, que iluminava o suficiente e que estava sempre presente.
Um farol com o seu nome, um ancoradouro...
E naquele ancoradouro tênue e restrito, até os marujos se refaziam, havia segurança ali, naquela hora, o mar era sagrado e manso e, os arrecifes se perdoavam por ferirem os sentimentos dos amantes.
Percebi o quanto você ama verdadeiramente os seus amigos, e, nós o que lhe damos em troca senão lamentos e perjúrios...
Amor de Pai e Mãe
Existe algo de pai e mãe, neste rosto amigo.
Talvez seja esta a única forma de interpretar esse seu perfume que alcança a gente, lá longe e traz para perto, sem receio de serenar seu colo tanto explicito no teu jeito de ser.
No brilho desses olhos que tenta ver tudo que cabe em seu prisma com o cuidado de mãe e o acalanto da transparência.
E eu fico ali tão perto, bebericando música e riso e como é bom, sentir os petardos da luz tranqüila que é estar na sua companhia.
AUSÊNCIA
Que pena você não aproveitar o Luar, só não é ainda mais belo devido a sua ausência.
As noites andam tristes sem você por perto.
Desculpe chamar-te assim de você e tão intimamente, esquecendo as regras da cortesia se não é só meu esse carinho e tão certo que o tanto que se dá é tão menos do que se recebe.
PEQUENO DEUS
Menino, garoto com medo, amante da natureza, espírito do céu.
Pequeno Deus criança que depende do seio da terra para se embebedar.
O teu silêncio é pouco perto do muito que tu sabes.
Os grandes sábios se reservam ao silêncio, enquanto os teus segredos sequer os monumentos ousam murmurar.
E se a brisa aventurar tal pura e inocente caricia ao dorso daquela pedra, esta sim, tão logo se elevaria qual pluma leve e singular.
E desde sempre cairia em seus compêndios e não haveria alma neste mundo capaz de suportar o doce amargo das tuas palavras.
Para então suprir seus sonhos, e realizar os seus motivos, quando me chama de amigo e vem chorar no meu ombro, é porque sou eu que sempre estou presente nessa solidão que é só minha.
Um tão pequeno pedaço imperfeito de Deus, um pequeno Deus carente de reparos com mais segredos do que uma mulher sozinha que às vezes se toca sem a companhia de um homem verdadeiramente amante e capaz... De perceber o universo oculto além do vestido que entalha tuas formas.
FRÁGIL
Ainda assim sou eu de carne e osso, até que minha maior porção reclame a minha condição humana e sou assim aquilo que faço.
Eu sou aquilo que penso.
E sou aquilo que respiro e sopro...
Sou vida e mulher.
Com minha alma presa à morte do meu corpo, encerrada e tão caída quanto um anjo mofo.
Para mim, a orbe, então que venham a mim, aqueles que me apascentam e que eles pensem e se exaltem.
Achando-me táo simples e dócil prisioneira até que se cumpram as minhas regras e que tuas palavras supram o cálice amargo das minhas aberrações.
Daí, na melodia que encontro em mim, ou no senhor dos seus emblemas eu me permito ser humana ainda a pouco, para simples e erradiça pedir o perdão que cabe a mim ordinária.
Feito lufa de vento que sopra seus cabelos e medos a bom-bordo, falando de você pra Deus sem limites ou senso, deixando e permitindo que minhas palavras sigam com a brisa ao alcance do mundo, assim, como feito uma fã carinhosa, ouvindo minhas preces.
_Eis que as vossas palavras são santas e muito tenho sorvido.
FORTALEZA
Havia lágrimas nos meus olhos... Mas não havia nada que amparasse o peso dos meus ombros.
E você, cobrindo a extensão do prisma com o esplendor das suas gigantescas asas, suavemente, se abrindo aludindo a luz com um simples sorriso que vislumbra e seduz sem perceber, querendo sempre abraçar o mundo que pouco sabe o quanto custa manter-se erguida essa fortaleza, que muitas vezes cai e ninguém vê.
Logo se ergue como a um exército em plena volúpia, se desgastando feito uma vela acesa choramingando gotas amenas de lucidez, durante a sua queima.
É quando seu universo morre, doendo, rasgando e machucando, ainda assim não se perturba...
Será esta a última ou, única morte?
E este mesmo anjo, vislumbra Tróia no meio da noite, com suas torres abaladas pelo raciocínio e acalanta seus apelos, deitando-lhe a cabeça em colo farto, feito um travesseiro companheiro que nunca dorme.
Os imensos portões da grandiosa cidadela foram derribados da história pela medioucridade, e suas torres abaladas pela ignorância de muitos fatos, ruíram sem orgulho.
Desta forma, também os pequenos deuses morrem, durando a eternidade de um pensamento ou a intolerância da inocência e suas batalhas enormemente, maiores que seus nomes, sequer serão lembrados.
E o mais ordinário é que estas pelejas são travadas no anonimato e as famas, as vitórias, resumem-se simplesmente em mais um inferno passageiro.
MORTE SÚBITA
Morremos todas as vezes que nos decepcionamos, mas sempre temos algo de esperança que arrasta nossas pernas na direção do desconhecido.
DIANTE DOS OLHOS
Então percebo uma criança morta naquele semblante adulto.
E me vejo entre as formiguinhas corriqueiras como tal apenas e simplesmente mais uma, carregando sem pressa o peso de primorosos fardos.
Formando uma trilha rota, carregando um imenso buquê combinando com as cores desse seu vestido.
Enfeitando seus sonhos com Joaninhas mal dormidas nos cabelos e vaga-lumes transeuntes andarilhos sem destinos.
E os besouros rola-bostas atravessando o seu caminho sem serem observados tão de perto.
Eu simplesmente peço para que não pise em mim com seu orgulho ferido e que possa me sorrir um aceno, dai minhas trevas se dissipam, logo, eu vejo luz nos seus olhos e a criança ressurge num sorriso ameno.
FOLHAS AO VENTO
E ainda assim, a copa dessa árvore só lho oferece as folhas soltas de outono, pois como as palavras que se vão ao vento, sem nenhum lampejo de aplauso, apenas são bonitas, incapazes de distender tal labirinto.
Uma rosa é uma rosa, nada mais que uma rosa e ainda assim é sublime na sua simplicidade.
RASCUNHO
Na hora certa eu estarei lá. Eu simplesmente estarei perto, feito um anjo oculto, mesmo que em pensamento, lá estarei, onde você for. Enquanto as palavras incomodarem e fazerem barulho, enquanto o coração disparar um novo pranto.
Porquanto ainda existe amor.
Eu voltarei no tempo, passarei a ser criança e escutarei o meu silêncio, assim, sem medo e quase sem querer, enfrentarei os vossos olhos de censura e me perdoarei pelos meus erros e também pelas vezes que desejei ser adulto para enganar a mim mesmo, mas ainda assim...
NAQUELA HORA
Naquele instante que chega para todos, àquela hora morta, que a gente se solta e segue sem se despedir, sem saber de quando...
Eu me deixo livre para acontecer a qualquer momento, sem hesitar. Liberto de receios ou de sofismas que eu mesma tenha alimentado.
E também deixo livre, àqueles que eu amo, os meus amores, apenas para que existam.
Assim quando você se for, ainda será amor e se me encontrar em qualquer lugar comum, saberá os outros que minhas mudanças foram boas.
Daí não morrerei mais.
Então é porque ainda existo, em algum lugar do todo.
Amo você, com seus olhos tristes vestida de realidade encerrando seus segredos bem guardados desde que ninguém ouse romper as muralhas deste pensamento.
Por amor ou fascínio, pela mulher e pelo homem em espírito e luz. Amo vocês todos.
Agora eu preciso me calar.
NAUFRAGO
Simplesmente quando uma gota cai no mar ainda é cedo para a tempestade...
texto extraído de pedaços de um tempo de A.DidioDufrayer
